A família Sartor e o Gambaretto
Às margens do Mar Adriático, na região do Vêneto, norte da Itália, havia um pequeno vilarejo de famílias italianas que viviam da pesca. A família Sartor era conhecida no local por produzir deliciosas cervejas e contar lendas que mexiam com a imaginação do vilarejo.
Os Sartor contavam histórias de uma criatura que chamavam de _Gambaretto_, o espírito de um gambá. Apesar de nunca ter sido visto, os Sartor juravam que ele se comunicava com eles enviando sinais, além de ajudá-los a realizar seus desejos.
Naquele ano, o verão foi escaldante e a cevada cultivada nas montanhas próximas não foi suficiente para atender a demanda da família Sartor para que pudessem entregar toda a cerveja encomendada.
A matriarca, responsável pela moagem dos grãos, esbravejou: “os grãos estão secos, não conseguimos nem moer, caspita!”. O patriarca então pediu baixinho a ajuda de seu amigo travesso: “Gambaretto, nos ajude a conseguir boa cevada, para que não nos falte alegria!”. Após muitas tentativas frustradas de extrair os açúcares dos grãos secos, cansandos, eles adormeceram.
Do jardim da casa, Gambaretto que observava tudo à distância, aproveitou o sono dos humanos e veio conferir de perto a situação daquela cevada. Deu uma mordida e sentiu apenas sabor de palha, “peccato!”, pensou. Passou a mão em um saco de sementes e pôs-se a trabalhar à beira do Mar Mediterrâneo, cavando, dançando e conversando com as ondas, que mandavam lufadas de brisa marítima incrivelmente fresca e agradável para embalar o trabalho de Gambaretto. Ele misturou a areia do mar à terra para ajudar as sementes a respirar e pediu às nuvens e às ondas que se unissem para mantê-las hidratadas e vigorosas.
Passadas algumas semanas, o patriarca e os filhos voltavam da pescaria, quando observaram que em um ponto mais distante do litoral cresciam belos campos dourados, beijando o mar a cada balançar. Um dos filhos exclamou, surpreso: “não é possível, parece cevada, mas à beira mar? Não pode ser!”. O patriarca ficou em choque, achando que seus olhos o enganavam: “possível, mas improvável! Só pode ter dedo de Gambaretto nessa história!”. Redirecionaram seu barco e foram conferir o mais novo feito de Gambaretto: uma cevada brilhante, com grãos enormes e cheia de saúde, pasmem, crescida às margens do Mar Mediterrâneo, em uma área sombreada que recebia a brisa fresca do oceano.
A família cuidou da cevada até que estivesse pronta para colheita. Degustaram o malte produzido pela matriarca com aqueles grãos e surpreenderam-se por seu sabor incrivelmente doce e balanceado.
A cerveja elaborada com aquela cevada contou ainda com a adição de flores locais que trouxeram-lhe notas florais e levemente picantes, conferindo-lhe um sabor único, que logo ficou conhecido em todas as vilas próximas como “a Pilsen dos italianos”.
Para celebrar o feito único, todos os dias o patriarca servia duas canecas daquele líquido dourado, vibrante. Sentado em sua varanda, ele admirava de perto o feito e levava o liquido até a boca, cheio de alegria. Era até então a melhor bebida que já tinha tomado. A cada gole ele percebia o sabor, os aromas e a cor. A segunda caneca, destinada à Gambaretto, era cheia todas as noites e de manhã estava sempre vazia.
Várias destas noites, os habitantes daquela casa ouviam o tintilar das canecas e, após um longo silêncio, um som cheio de satisfação preenchia o ar.
“AHH, PERFETTO!”
Gambaretto cumpria o ritual de esvaziamento de canecas todas as noites desde então. Os campos de cevada cultivados às margens do Mar Mediterrâneo, cujo malte fora batizado com o nome de “Eraclea”, garantiram à família longa e próspera produção da mais exclusiva das criações. Batizada por eles de Sartor! Italian Pilsener, a receita ficou conhecida em todo o mundo, tornando-se uma lenda viva que por onde passava permitia que as pessoas se conectassem com as historias, a tradição, a magia e os sabores únicos que ela carrega.
SALUTE!