O Espírito de Mangubá

O Espírito de Mangubá

Ali, bem ao lado da linha férrea, inaugurada por D. Pedro II, havia um pacato vilarejo, cercado pela majestosa mata atlântica, cortado por um rio e sob o sol escaldante.

 

É neste cenário ideal, com vista para a floresta, que um casal de cervejeiros tinha uma casa de veraneio, onde aproveitavam os finais de semana para relaxar, estar em harmonia com a natureza e, principalmente, experimentar e criar novas cervejas.

 

Naquela mata, vivia também o guardião da floresta, Mangubá, que, segundo os nativos do vilarejo, era o espírito de um gambá que, apesar de não poder ser visto pelas pessoas, buscava se comunicar com as pessoas através de alguns fenômenos.

 

Algumas pessoas juravam que já haviam presenciado os sinais dele. Os fazendeiros o temiam, porque ele perseguia todo mundo que fizesse algum mal à floresta, como caçadores e incendiários. Os mais velhos diziam que ele estava ali para manter o equilíbrio e, que para chamá-lo, era só assobiar. Para o cético casal de cervejeiros, a história não passava de uma lenda boba, já que seria difícil imaginar ter um sopro divino em seu dia a dia.

 

Até que, em uma manhã de sábado,os raios de sol que entravam pelas frestas da janela e beijavam o rosto de um deles, o fez acordar e, ao se deparar com a beleza matinal, pôs-se a assobiar, afinal de contas, o dia estava perfeito para fazer e, claro, beber uma cerveja. Com a brisa de primavera, aquele harmônico assobio saiu pela janela e foi bailando pelo ar até chegar na mata, em meio a copa das árvores, onde o Mangubá descansava. Aquela melodia especial tocou fundo em seu ser que, sem pensar duas vezes, passou a observar de perto o jovem casal.

 

Enquanto tomavam seu café, rotineiramente, eles conversavam sobre a vida e a vontade de fazer a diferença. De deixar um legado para o mundo. Mas, para isso acontecer, ainda faltava alguma coisa. Aquela ideia. Uma luz, um lapso ou, quem sabe, uma inspiração do além.

 

O espírito, ao assistir a cena, achou isso um gesto nobre e decidiu ajudá-los, dando alguns sinais.

 

Assim, começou a busca, do casal, por ingredientes únicos. Algo diferente, marcante e especial, para que eles pudessem criar a Pietá das cervejas. Aquele líquido sagrado que, ao tomarem, as pessoas pudessem ter uma experiência incrível. Ao contrário deles, Mangubá já sabia exatamente o que iriam precisar. Uma fruta tropical, deliciosa e que dava em abundância naquela região.

 

De maneira sagaz, o guardião da floresta, tentou mostrar para eles o que seria o diferencial daquela bebida…

 

Ao ligarem aquele velho rádio para começar a produzir a cerveja, escutaram um clássico do samba de Jamelão “Mangueira teu cenário é uma beleza/Que a natureza criou/O morro com seus barracões de zinco/Quando amanhece que esplendor”.

 

Eles não entenderam.

 

Ao arregaçar as mangas para moer o malte, outro sinal: o botão justo daquela camisa arrebentou.

 

– “Mas que droga! Olha isso, princesa! Logo a minha camisa favorita!” — disse ele tentando consertar.

 

E nada. O espírito, sem se abater, continuou tentando.

 

Finalizado a moedura, na hora do almoço, decidiram parar para descansar à sombra de uma mangueira.

 

Mangubá, lembrando da história de Isaac Newton e a Maçã, tentou um contato, mais literal, fazendo com que caísse da árvore uma manga bem em suas cabeças. E… nada. Doeu, mas ninguém sacou.

 

Até que, pensando em desistir, o protetor da mata, ao ver o cachorro do casal, tentou pela última vez o seu approach. Através de uma ventania, que fez com que as frutas caíssem perto do pequeno Growler, que sem pensar duas vezes, pegou uma e sumiu.

 

Ao procurarem o melhor amigo, acharam-o debaixo do tanque, degustando aquela fruta e, num sopro divino que preenchera, eles finalmente entenderam aquele sopro divino.

 

A partir desse evento, em homenagem ao espírito, o casal criou uma cerveja única, que é o cão chupando manga, Mangubá.

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